O uso intensivo do solo promovido pela agricultura pode promover a deterioração do mesmo, por isso o uso das plantas de cobertura pode ser uma solução viável para a produtividade da lavoura.
Ainda mais, o revolvimento provocado pelas mobilizações de máquinas, como a gradagem ou a subsolagem, também propicia o rompimento dos agregados do solo, afetando negativamente sua estrutura, além de remover a cobertura vegetal, aumentando a exposição do solo aos impactos da chuva e facilitando a erosão hídrica e eólica.
O rompimento desses agregados causa perdas irreversíveis de solo, danos ambientais e grande prejuízo para o agricultor, pois não existem técnicas para recuperar o solo perdido pela erosão e o processo de formação de solo leva milhares ou até milhões de anos.
Como reduzir a perda de solo e diminuir seus impactos negativos?
O sistema de plantio direto (SPD) ou sistema de semeadura direto (SSD) é uma técnica de manejo conservacionista que preconiza a manutenção da cobertura vegetal, o não revolvimento do solo e a rotação de culturas.
As primeiras iniciativas de implantação do SSD no Brasil ocorreram no Paraná na década de 70, com o objetivo de minimizar os efeitos da erosão do solo.
O SSD constitui-se em uma importante ação para manter a sustentabilidade ambiental.
Porém apenas a rotação de culturas, como soja e milho, não é suficiente para manter um bom aporte de material vegetal no solo em boa parte do Brasil.
Devido aos fatores climáticos, a decomposição da palhada ocorre de maneira acelerada.
Por isso a utilização de plantas de cobertura é uma boa opção para manter a sustentabilidade do sistema.
As plantas de cobertura podem ser utilizadas em sistemas de rotação ou em consórcio com a cultura de interesse comercial.
As principais características que as plantas de cobertura devem possuir são:
- Capacidade de produção de grande quantidade de matéria seca;
- Resistência a seca;
- Não apresentar problemas de infestação as áreas agrícolas;
- Não ser abrigo de pragas ou doenças;
- Apresentar sistema radicular agressivo e profundo e facilidade de manejo.
Por que utilizar plantas de cobertura?
Existem diversos benefícios voltados a qualidade do solo que as plantas de cobertura podem proporcionar.
Seu sistema radicular melhora a agregação do solo, por fornecer matéria orgânica na camada de 0-10 cm de profundidade, melhorando substancialmente a estruturação do solo, favorecendo o crescimento radicular das culturas de interesse.
Além disso, algumas espécies, como o nabo forrageiro e o feijão guandu, são utilizadas para descompactar o solo sem a necessidade do uso de máquinas.
As raízes das plantas de cobertura podem formar canais contínuos por meio dos quais o sistema radicular de outras culturas cultivadas em sucessão (mais susceptíveis a compactação do solo) pode crescer.
Dessa forma, proporciona a absorção de água e nutrientes em camadas subsuperficiais (abaixo de 20 cm).
Como comentado anteriormente, a agregação do solo é favorecida graças às plantas de cobertura.
Os agregados são a junção de plantas, fungos, microagregados de silte, microestruturas de argila, partículas de matéria orgânica e hifas micorrízicas.
Boa agregação garante boa estruturação, resultando em diversos benefícios para o solo, principalmente a boa infiltração.
Solo desestruturado (esquerda) e solo bem estruturado (direita).
Outro benefício é a ciclagem de nutrientes, o aporte vegetal conferido por esse sistema auxilia na manutenção de uma camada superficial rica em fósforo, além de promover a reciclagem do mesmo, proveniente da mineralização da matéria orgânica.
É conveniente lembrar que com o aumento do teor de matéria orgânica do solo, o processo de adsorção do fósforo diminui, aumentando sua disponibilidade para as plantas.
O potássio é um nutriente que não forma ligações com compostos orgânicos no metabolismo vegetal, por isso ele sofre uma reciclagem rápida e estará prontamente disponível para a cultura de interesse econômico.
Algumas espécies com sistema radicular profundo, como as gramíneas (em especial a braquiária), são eficientes em recuperar parte do potássio lixiviado, tornando-o disponível após a dessecação da cobertura.
As espécies leguminosas utilizadas no sistema, como a crotalária, fornecem nitrogênio para o solo com a fixação biológica do nitrogênio e sua palhada apresenta uma baixa relação C/N, possuindo elevador teor de nitrogênio.
Crotalária, ervilhaca e estilosantes são espécies que aportam grandes quantidades de nitrogênio no solo.
O ambiente criado pelas plantas de cobertura favorece a microbiota presente no solo.
Fungos, bactérias, enzimas entre outras, tem um papel importante no sistema produtivo, pois atuam na mineralização de nutrientes, no ciclo de nitrogênio, na nitrificação e formam associações micorrízicas com as raízes, auxiliando na absorção de fósforo.
Basicamente, as plantas de cobertura contribuem para a melhoria dos atributos físicos, químicos e biológicos do solo, fazendo com que o solo continue com sua capacidade de produzir durante o tempo.
Outros benefícios
As plantas de cobertura são importantes aliadas no controle de plantas daninhas, graças ao efeito alopático na germinação de sementes de plantas invasoras e a cobertura proporcionada pelas plantas de cobertura.
Assim, se constitui uma barreira física que limita a presença de luz, o que impede a emergência de algumas plantas daninhas, inclusive de difícil controle, como a Buva.
Algumas espécies, exemplo da crotalária, auxiliam no manejo dos principais nematoides que causam danos econômicos às espécies cultivadas para produção de grãos e fibras.
Além disso, são ferramentas para o controle de pragas e doenças (quebra no ciclo de pragas), como a braquiária que atua no controle do mofo branco.
Como as plantas de cobertura diminuem drasticamente o efeito da erosão, elas também auxiliam no combate ao efeito estufa, já que impedem que o carbono presente no solo se perca na forma de CO₂.
E também auxiliam no sequestro do CO₂, incorporando-o ao solo na forma de carbono orgânico.
Algumas limitações
A baixa disponibilidade hídrica no período de entressafra, principalmente na região centro-oeste, é uma limitação para a utilização de algumas plantas de cobertura, principalmente se forem semeadas após a colheita da safrinha.
A falta de retorno econômico direto com a implantação das plantas de cobertura não é atrativo para alguns produtores, já que na maioria das vezes as plantas serão utilizadas principalmente para produzir cobertura vegetal para o sistema de semeadura direta.
Além disso, outros gastos também são levados em conta como o custo das sementes, custo da hora/máquina, combustíveis para o maquinário, custo da mão-de-obra e outros.
Porém, algumas espécies podem contornar esses dois problemas, caso do sorgo e o milheto, que apresentam boa tolerância à seca e podem ser utilizados para o pastejo de animais.
Manejo das plantas de cobertura
Algumas plantas de cobertura podem ser utilizadas em consórcio com o milho safrinha, como a crotalária ou a braquiária, manejo utilizado em sistemas de integração-lavoura-pecuária.
Na região sul do país, onde mesmo durante o inverno ocorrem chuvas, as plantas de cobertura podem ser utilizadas após a colheita da safrinha, porém é necessário o uso de plantas que são adaptadas ao frio, como a aveia-preta.
O consórcio entre duas espécies diferentes é uma boa opção para trazer mais benefícios ao solo, como uma leguminosa consorciada com uma gramínea.
Uma maneira de contornar a falta de retorno econômico imediato é através do planejamento dos talhões.
O produtor pode optar por escolher 1 ou 2 talhões por safra que serão semeados com plantas de cobertura e fazer uma rotação de seus talhões nos outros anos.
Para isso é importante que o produtor faça um bom gerenciamento da sua propriedade, o software CHBAGRO ajuda o produtor a fazer uma boa gestão e controlar os custos de cada talhão.
O momento ideal para dessecar as plantas de cobertura é quando elas atingem o estágio de máximo florescimento, devido ao maior acúmulo de fitomassa e nutrientes.
Conclusão
O uso de plantas de cobertura de solo, cultivadas solteiras ou consorciadas trazem inúmeros benefícios ao sistema produtivo.
Podemos citar como exemplos a ciclagem de nutrientes, quebra do ciclo de pragas e doenças, melhoria da estrutura física do solo, controle de plantas daninhas e o aumento do teor de matéria orgânica do solo.
Esses benefícios resultam em incremento na produtividade, fazendo com que o sistema de semeadura direta se intensifique.
Além disso constituem uma importante técnica de manejo para reduzir o impacto ambiental causado pela agricultura.
Algumas opções de espécies vegetais para utilização como plantas de cobertura e suas características estão listadas na tabela abaixo:
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