O sistema de colheita mecanizada trouxe vários benefícios para o cultivo da cana-de-açúcar em território nacional. Em contrapartida, tal sistema elevou o tráfego de máquinas agrícolas na lavoura, o que tem aumentado a compactação do solo e consequentemente causado muitos danos e abalos na soqueira da cana.
Com isso, buscar soluções na colheita mecanizada é dos principais fatores a serem considerados e analisados durante todo o ciclo da cultura, sendo necessário pensar em soluções para, ao menos, reduzir as perdas.
Veja então quais são as principais causas de danos e abalos na soqueira da cana e saiba quais são as práticas que podem ser adotadas para prevenir este sério problema nos canaviais.
Colheita mecanizada. Muitos benefícios, mas com importantes perdas econômicas
Com a proibição da queima da cana, a mecanização da colheita rapidamente chegou na grande maioria de canaviais de todo o Brasil. Segundo um levantamento realizado pelo Centro de Tecnologia Canavieira, em um prazo menor que 10 anos, a região centro sul do Brasil saiu de um índice de mecanização de 47% em 2008 para mais de 97% em 2015.
Vale salientar que a mecanização na colheita da cana-de-açúcar não só aumenta o rendimento operacional da colheita como também a sustentabilidade do solo, por dispensar a queima.
Porém, mesmo diante dos benefícios, é preciso destacar que a mecanização é responsável por causar expressivas perdas econômicas durante a colheita.
Um estudo realizado pelo CTBE (Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol) demonstrou que as perdas na colheita seriam suficientes para a aquisição de nove usinas de etanol com capacidade de moagem de 2,5 milhões de toneladas por safra, ou seja, o prejuízo ultrapassa os R$ 4,5 bilhões, como observado no infográfico abaixo:
Fonte: CBTE (2017).
Dentre todas as perdas decorrentes da colheita mecanizada, o pisoteio da soqueira da cana é uma das mais importantes, sendo responsável, em média, por cerca de 33% de redução na produtividade do canavial, como podemos observar no gráfico abaixo.
Fonte: GAPE-ESALQ
Principais causas do pisoteio da soqueira da cana
Como vimos, os danos à soqueira agravaram-se consideravelmente com o incremento da mecanização nos canaviais. Mas há algumas causas especificas que agravam os danos da soqueira, tais como:
- Má qualidade do plantio;
- Tráfego de maquinário realizado de forma incorreta, principalmente durante operações de cultivo e colheita;
- Falta de uma bitola melhor ajustada;
- Época de corte;
- Falta de planejamento
Esses fatores centrais causam o fenômeno da compactação do solo, o qual impede o brotamento e desenvolvimento das socas, sendo, por isso, importantes responsáveis por diminuir consideravelmente a produtividade e a longevidade do canavial.
Ainda sobre essa questão, diversos estudos têm apontado o mecanismo de corte basal como um importante responsável pelas perdas na colheita mecanizada da cana-de-açúcar, influenciando diretamente nos índices de danos e abalos causados às soqueiras.
Neste contexto, muitos estudos indicam que à medida que ocorre o desgaste do fio de corte, haverá um incremento no índice de danos e abalos à soqueira da cana, o que potencialmente prejudicará a rebrota do canavial futuramente.
Práticas adotadas para prevenir danos na soqueira de cana
Para diminuir os danos ocasionados pelo pisoteio na soqueira da cana algumas práticas são recomendadas e visam aumentar a eficiência na colheita do canavial.
Entre essas ações pode-se citar:
1. Adote estratégias de manejo varietal da cana-de-açúcar
Durante o plantio do canavial a alocação de variedades da cana-de-açúcar costuma ser um parâmetro chave para toda a atividade, aumentando a produtividade e reduzindo os desperdícios.
Por isso, realizar um detalhado planejamento de médio a longo prazo com base em Blocos de Colheita será uma estratégia fundamental. Estes, por sua vez, precisam ser cuidadosamente organizados visando agrupar variedades com as mesmas características de maturação em diferentes ambientes de produção.
Todo esse planejamento permite uma significativa redução da movimentação de equipamentos na colheita, proporcionando diminuição dos custos de CTT (Corte, Transbordo e Transporte) e principalmente menor porcentagem de danos à soqueira da cana.
2. Aumente a eficiência no corte basal da cana
Mesmo tendo grande potencial operacional, a colheita mecanizada de cana-de-açúcar crua ainda é caracterizada por causar elevados níveis de perdas quali-quantitativas no decorrer da operação.
Uma das principais razões dessas perdas tem relação com o desgaste dos componentes do mecanismo de corte basal, composto por discos rotativos com múltiplas lâminas de corte.
Este mecanismo basal exerce grande influência e importância nos danos e abalos causados às soqueiras, podendo ocasionar maior dilaceramento dos tocos, o que facilita o ataque de pragas e doenças.
Nesse sentido, é preciso pensar em estratégias que definam um plano de corte de aproximadamente 1,5 m de largura. Este plano deve descer até a base da cana, rente ao solo, evitando perdas (tocos) da soqueira da cana.
Nesse processo, é desejável ainda utilizar um equipamento que seja conduzido por um dispositivo autotrack. Este é capaz de identificar as irregularidades do terreno, evitando assim cortes do solo, que danificam as facas dos discos de corte.
3. Invista em máquinas com Piloto Automático e GPS
Com o avanço na mecanização da colheita, a adoção do piloto automático vem ganhando grande importância entre usinas e produtores. Essa tecnologia vem contribuindo bastante na prevenção de danos e abalos na soqueira da cana, principalmente em razão de a cana ser uma planta perene.
Além disso, há outros benefícios bastante importantes do piloto automático, como aumentar a uniformidade entre os sulcos de plantio, reduzir o consumo de combustível e aumentar a capacidade operacional das máquinas.
Além do piloto automático, há outras tecnologias que já se fazem presentes nas colhedoras atuais, como:
- Automação dos Acionamentos da Manobra (Início e Final de Linha);
- Câmeras Operacionais;
- Velocidade Variável Esteira do Elevador;
- Funções automatizadas para as manobras, permitindo rotação do motor, altura do corte de base, reversão do despontador, inversão do disco de corte lateral e sistema de correção de rota
4. Busque adequar o espaçamento entre linhas
Em razão do intenso tráfego durante a colheita, muitos profissionais defendem como espaçamento ideal entre linhas para a colheita mecanizada a medida de 1,50 metro. Segundo eles, este maior espaço entre ruas de cana resulta em uma colheita sem injúrias ao canavial, prevenindo a ocorrência de danos e abalos na soqueira da cana e proporcionando uma maior longevidade do canavial.
Espaçamentos menores, por exemplo, de 1,40 metro fazem com que a colhedora pise na linha de cana vizinha e tombe a cana, além de fazer com que o transbordo trafegue sobre a linha de cana já colhida para evitar “bater” no elevador da colhedora.
Segundo esses profissionais, o pisoteio das linhas de cana durante as safras resulta em queda de produtividade muito superior ao aumento previsto pela redução do espaçamento, ou seja, os benefícios oriundos da redução de espaçamento são suplantados pelos problemas encontrados na hora da colheita.
Porém, ainda existe certa resistência por parte de alguns produtores, principalmente os que se utilizam de espaçamento de 1,40 metro.
Mesmo com essa resistência, os especialistas observam que esses 10 cm podem, sim, fazer toda diferença, pois representam 30 centímetros a mais de espaço para a operação de colheita, já que a colhedora caminha três ruas espaçadas do reboque.
Dessa forma, os 30 centímetros permitem realizar a colheita sem pisar na soqueira da cana, tanto na linha já colhida como na cana e na linha que ainda será colhida.
Conclusões
O pisoteio da cana tornou-se um dos principais fatores a serem considerados e analisados durante todo o ciclo da cultura, principalmente na colheita, em razão dos intensos danos e abalos na soqueira da cana.
Alguns fatores contribuem com o aumento dos danos à soqueira, tais como má qualidade do plantio, tráfego de maquinário realizado de forma incorreta e falta de planejamento. Por isso, devemos pensar em estratégias para reduzir os danos e aumentar a produtividade da colheita.
Entre as estratégias que podem ser adotadas pode-se citar a melhora do manejo, como manejo varietal e aumento do espaçamento entre as linhas em 10 centímetros, além da adoção da tecnologia na colheita, caso das máquinas dotadas com piloto automático e GPS.
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