El Niño e La Niña e seus impactos para cana e grãos

El Niño e La Niña e seus impactos para cana e grãos

Publicado em: 28/04/2020

De tempos em tempos, nos deparamos com a presença de fenômenos climáticos, como o El Niño e La Niña, que influenciam a condição climática de algumas regiões.

Tanto a frequência quanto a severidade destes fenômenos exercem influência direta sobre o trabalho do produtor rural, tornando a agricultura ainda mais complexa.

Uma das razões da fama destes fenômenos vem dos seus efeitos – positivos ou negativos – sobre a produção agrícola.

Por isso, em ano que se fala da incidência desses fenômenos, os agricultores ficam atentos às decisões que precisarão tomar no manejo de suas lavouras, seja de cana ou de grãos.

El Niño

Para isso, a relação da atividade agrícola com o El Niño e a La Niña precisa despertar o interesse do produtor, que precisa entender mais sobre o surgimento, características principais e, principalmente, seus impactos sobre a produção agrícola.

Neste texto apresentaremos todas essas informações, para que o produtor agrícola possa entender mais sobre este tema e adotar medidas de enfrentamento desse fenômeno, permitindo a garantia de bons resultados na lavoura de grãos ou cana.

 

Fenômenos El Niño e La Niña: o que são?

Os fenômenos El Niño e La Niña são caracterizados como padrões climáticos naturais resultado das interações entre o oceano e a atmosfera.

Ambos fenômenos envolvem anomalias das temperaturas da superfície do oceano e da circulação atmosférica, resultando em extremos climáticos em todo o mundo.

O que é o El Niño?

O fenômeno do El Niño é caracterizado como sendo um aquecimento anormal do sistema oceano-atmosférico na zona tropical do Oceano Pacífico. A descrição desse fenômeno também leva em conta o enfraquecimento dos ventos alísios na zona equatorial do Oceano Pacífico.

O resultado do aquecimento das águas oceânicas nessa região, somado ao enfraquecimento dos ventos, resulta em variações climáticas não só nessa zona, mas em todo o planeta, podendo até impactar os padrões de transporte de umidade.

Como consequência, ocorrem variações na distribuição das chuvas nas regiões tropicais e em latitudes médias e altas do planeta. Em outras regiões do globo é possível verificar variações de temperatura de até 4° ou 5°.

O que é a La Niña?

O fenômeno La Niña é caracterizado pelo resfriamento fora do comum das águas do Pacífico na região equatorial. Mas, para que esse fenômeno aconteça de forma oficial, duas condições devem ser estabelecidas com duração de pelo menos cinco trimestres móveis consecutivos:

  1. Resfriamento na região central do Pacífico, com anomalia média inferior a meio grau abaixo do normal;
  2. Esse resfriamento oceânico deve interferir nas condições atmosféricas, ou seja, no aumento dos ventos alísios e na redução da chuva na região central e leste do Pacífico.

A figura abaixo, disponibilizada pelo NOAA Climate, mostra muito bem como se comportam estes dois fenômenos.

Em azul, observamos temperaturas mais frias do oceano em relação à média histórica, indicando um ano de La Niña. Já em vermelho, vemos o aquecimento do oceano em relação à média histórica, registrado em ano de El Niño.

Influência do El Niño e da La Niña na agricultura brasileira

No Brasil agrícola, os impactos do El Niño e da La Niña são bastante diversificados, afinal nosso país possui dimensões continentais.

Em algumas áreas o El Niño produz secas extremas, em outras eleva as temperaturas ou provoca chuvas intensas em determinadas regiões, o mesmo pode acontecer com os efeitos da La Niña.

Além disso, ao contrário do que podemos pensar, esses fenômenos não são responsáveis por causar apenas prejuízos.

Na verdade, um estudo japonês indica que El Niño pode aumentar os rendimentos de até 36% das áreas plantadas e, por outro lado, diminuir em até 24% delas. No Brasil, as culturas favorecidas pelo El Niño podem ser o milho, a soja e o arroz.

Já com La Niña, os números são um pouco diferentes. O mesmo estudo indica que os impactos negativos podem chegar aos 13% das áreas cultiváveis e os positivos ficam em até 4%.

De modo geral, os efeitos do El Niño na produção agrícola podem ser divididos por regiões da federação:

  • Região Norte: Redução das chuvas no leste e norte da Amazônia, com aumento da probabilidade de incêndios florestais, podendo comprometer a produtividade de algumas culturas;
  • Região Nordeste: Secas nas áreas centrais e norte da região, afetando o início do plantio da soja e redução da germinação das sementes na região de Matopiba;
  • Região Centro-Oeste: Não há efeitos pronunciados nas chuvas e na temperatura da região. Mas há tendências de chuvas acima da média e temperaturas elevadas essencialmente no sul do Mato Grosso do Sul;
  • Região Sudeste: Não há padrão característico de mudança das chuvas, mas com aumento moderado das temperaturas médias;
  • Região Sul: Chuvas abundantes acima da média histórica, com aumento também na temperatura média, podendo inclusive favorecer a produtividade dos grãos.

Já o fenômeno La Niña influencia as regiões produtivas do Brasil das seguintes maneiras:

  • Região Norte: Aumentos na intensidade da estação chuvosa na região Amazônica, ocasionando cheias expressivas de rios da região;
  • Região Nordeste: Chuvas acima da média na região, justificando enchentes no litoral nordestino;
  • Região Centro-Oeste: Não há efeitos pronunciados nas chuvas e na temperatura nessa região, mas há relativas tendências de estiagem, o que pode afetar a produtividade da safra de cana-de-açúcar e de grãos.
  • Região Sudeste: Não há padrão característico de mudança das chuvas e nem na temperatura;
  • Região Sul: Provoca estiagem em toda região, principalmente no inverno. Mas pode haver falta de chuvas na primavera, fato esse que diminui a ocorrência de doenças e até melhora as características do grão.

 

O que fazer quando esses fenômenos acontecem?

Devido ao fato de poder contribuir ou comprometer a produção agrícola, é extremamente importante termos muitos cuidados na condução da agricultura mediante esses fenômenos climáticos.

Mas, na verdade, o melhor período para agir será sempre antes da ocorrência desses fenômenos. Assim, é preciso que o produtor rural conheça as dinâmicas climáticas, além desses fenômenos esporádicos, permitindo planejamento antecipado e otimização da gestão da atividade agrícola.

Neste sentido, é importante também citar que tanto o El Niño como a La Niña são fenômenos previsíveis com uma relativa margem de tempo, permitindo assim mais prazo para planejamento.

Fenômeno El Niño

Assim, de posse dos dados meteorológicos, o produtor consegue determinar o melhor momento para realizar o plantio e semeadura de acordo com a incidência de chuvas, que estará modificada diante desses fenômenos esporádicos.

Tanto o El Niño quanto a La Niña são dois fenômenos que fazem parte do calendário global e impactam de forma decisiva o agronegócio.

Por isso, fazer uso de um bom serviço de monitoramento meteorológico é fundamental, permitindo que o gestor faça um planejamento estratégico eficiente para o negócio.

Assim, há 5 dicas para que o produtor rural tenha uma boa produtividade na lavoura, mesmo diante dos fenômenos do El Niño e do La Niña:

  1. 1. Fique de olho nas condições meteorológicas e fenômenos climáticos na sua região;
  2. 2. Conheça bem sua propriedade (tipo de solo, clima) e sua lavoura (hábito de crescimento, pragas e doenças que podem afetar a lavoura);
  3. 3. Faça um bom planejamento de toda a sua atividade agrícola;
  4. 4. Tenha todas as suas atividades agrícolas bem registradas;
  5. 5. Monitore sua lavoura de forma contínua

 

Conclusões

Como vimos, tanto o El Niño quando a La Niña são responsáveis por provocar mudanças na temperatura e no regime de chuvas em diversas regiões do planeta.

Por causa de seus efeitos, tais fenômenos podem impactar diretamente a produção agrícola, podendo elevar a produção ou comprometer manejos como o plantio e a semeadura de lavouras de grãos e da cana-de-açúcar.

Por isso, para alcançar uma melhor produtividade, mesmo com influência do El Niño ou La Niña, é muito importante que o produtor rural aja de forma antecipada e invista em planejamento das suas atividades agrícolas.

 

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