Quando o assunto é café, é importante ressaltar que os manejos relacionados a colheita lideram a lista de custos de produção. Isso, porque, todo e qualquer investimento feito ao longo dos ciclos da lavoura podem ser comprometidos pela falta de planejamento de colheita do café.
De acordo com a Conab, a safra brasileira do grão em 2019 foi de 52 milhões de sacas. Para conseguir números expressivos, é fundamental que as operações de colheita tenham índices excelentes, preservando a produtividade e reduzindo as perdas.
Para que essa etapa seja concluída com sucesso, os preparos e o planejamento devem começar bem antes da hora da colheita em si.
Além de realizar a colheita no tempo certo, considerando a variação na maturação dos grãos, revisar os equipamentos, materiais, secadores e necessidade de mão de obra também são essenciais para a qualidade do café colhido sem atrasos e imprevistos nesse momento tão importante.
A influência da colheita do café na qualidade dos grãos
A qualidade do café está relacionada com diversas particularidades do grão, do manejo e da colheita. A composição genética das variedades, por exemplo, influenciam diretamente na qualidade do café.
No entanto, mesmo investindo em frutos com grande potencial e realizando um manejo bem executado, o momento da colheita e a maneira como ela é feita pode determinar o sucesso da produtividade e da qualidade de sua lavoura.
Tudo isso influenciará no resultado do café após o processamento, industrialização e preparo da bebida.
Um dos principais desafios na hora da colheita do café está relacionado com a desuniformidade da maturação dos grãos. A diferença pode aparecer de um talhão para outro, de uma planta para outra e até mesmo entre os grãos de uma mesma planta.
Colher grãos antes do tempo certo resulta em grande perda na produtividade, assim como colher de forma tardia também afeta a qualidade do produto. Além disso, a colheita tardia tem grande possibilidade de apresentar maior número de grãos de varrição, já que os frutos caem facilmente.
Sendo assim, o mais recomendado aos produtores de café é fazer a averiguação por talhão, iniciando a colheita do café quando a lavoura apresentar uma quantidade pequena de frutos verdes.
Em geral, esse tempo ideal ocorre cerca de 7 meses após a floração – mas atenção, muitos fatores podem influenciar essa maturação, como:
- Região de plantio;
- Variedade genética dos grãos;
- Sistema de plantio utilizado;
- Luminosidade e radiação solar;
- Ocorrência de chuvas.
Por isso, é importante que o produtor rural e profissionais que estão atuando na condução da lavoura e no planejamento de colheita do café observem atentamente a situação da lavoura para definir o calendário agrícola de forma assertiva.
Em geral, o período de colheita no Brasil vai de abril a setembro – principalmente nos meses de junho a agosto – podendo ser prolongado até novembro ou dezembro em alguns casos.
Tipos de colheita
Outro fator que influenciará o seu planejamento de colheita do café será o tipo de colheita ideal para o seu terreno e sistema de plantio.
Isso, porque, a seletividade e o método com que a colheita será realizada afetará a necessidade de mão de obra e o tempo que esse procedimento demandará para que os grãos sejam colhidos no tempo certo.
Derriça manual
Para a derriça manual, o seu planejamento de colheita precisará envolver os materiais e a mão de obra necessária para esse tipo de método, como pessoas e panos que serão posicionados nas linhas ou ao lado de cada pé de café.
Nesse tipo de colheita, os cafés derriçados são colhidos de uma vez e não entram em contato com a terra ou com cafés caídos que já tenham iniciado um processo de fermentação – o que preserva a qualidade do grão.
Além disso, esse tipo de colheita também facilita a abanação do cafezal e no transporte e processamento dos grãos, que estarão mais limpos. A derriça manual é ideal para locais frios e úmidos, onde a fermentação acontece mais facilmente e precisa ser evitada.
Derriça manual no chão
Em regiões onde o clima é mais seco ou o solo mais arenoso, é possível realizar a derriça manual no chão, sem a necessidade dos panos. Esse método também é utilizado em lavouras onde o espaçamento entre as plantas dificulta a colocação de panos.
Para garantir uma colheita eficiente nesse método, é importante realizar alguns procedimentos fundamentais, como:
- Arruação antes da colheita, garantindo ruas livres de impurezas;
- Recolher todo o café de varrição que estiver no chão antes da colheita;
- Recolher o café derriçado no mesmo dia;
- Fazer um transporte rápido e eficiente para que os grãos possam ser lavados e secos.
Colheita mecanizada
A colheita mecanizada pode ser utilizada em terrenos que sejam mais planos e não apresentem barreiras ou obstáculos para a circulação das máquinas. Além disso, é importante regular corretamente a velocidade e a intensidade da vibração das hastes.
Apesar de apresentar um menor custo e maior rendimento operacional, a falta de técnicas corretas na hora da execução podem comprometer a qualidade do café colhido. No entanto, também há maquinas que permitem a colheita seletiva do café.
Colheita a dedo ou catação
Pouco utilizado nas lavouras brasileiras, a colheita do café a dedo ou catação é ideal para lavouras que apresentem alto grau de desuniformidade na maturação dos grãos.
Esse método é utilizado na maioria das regiões cafeeiras do mundo, sendo o principal tipo de colheita em locais como Colômbia e América Central – no Brasil, apenas poucas lavouras familiares no Nordeste aderem a essa técnica.
A principal vantagem dessa colheita é a preservação da qualidade do café, que é colhido em várias passadas ao longo do ano, respeitando a maturação dos frutos.
Sendo assim, para pequenos produtores, a baixa escala e alta demanda de mão de obra podem ser bem recompensadas com um pós colheita bem feito que garantirá grande agregação de valor ao produto final.
Conclusão
Para ter sucesso no planejamento de colheita do café, todos os tipos de colheita precisam ser previamente definidos e estudados de acordo com a extensão e condição da área plantada.
Dessa forma, o produtor conseguirá organizar melhor o seu calendário agrícola e detalhar as etapas de preparação e colheita visando preservar a qualidade do seu produto como fator de agregação de valor e competitividade.