Você sabia que o brasileiro consome, em média, 40 kg de pão por ano? O ingrediente principal deste delicioso alimento é o trigo que também está presente nas massas, cerveja, biscoitos e variados tipos de bolos e até na fabricação de colas, cosméticos e álcool.
Bastante cultivado em todo o mundo, com produção de 735 milhões de toneladas em 2018, este cereal tem também boa participação no agronegócio brasileiro.
Na safra de 2019 por exemplo, a produção nacional foi de pouco mais de 5 milhões de toneladas, segundo dados da Sindutrigo.
Porém, segundo a CONAB, o consumo deste produto no Brasil está estabilizado por volta de 12,5 milhões de toneladas, fazendo com que o Brasil importe todo ano cerca de 7,2 milhões de toneladas deste grão.
Isso abre um espaço bastante interessante para o agricultor brasileiro, mesmo que os preços do grão estejam relativamente baixos no mercado interno. Para contornar isso, é preciso investir em muito planejamento, priorizando a eficiência no cultivo do trigo no Brasil.
Veja informações sobre como ocorre a produção de trigo no Brasil e saiba como cultivar essa importante cultura no país.
Características principais do trigo
O trigo é uma gramínea (família Poaceae), herbácea e que apresenta metabolismo do tipo C3, sendo datada de 9.500 a.C.
Este cereal é também um alimento extremamente importante para a saúde no aspecto nutricional.
Este grão configura-se como uma importante fonte de energia, sendo também um alimento rico em vitaminas e minerais, como as vitaminas do complexo B, o potássio, o fósforo e o magnésio.
Outra característica nutricional interessante é sua alta concentração de fibras alimentares, que auxiliam na regulação da atividade intestinal, no controle da glicemia e do volume de gordura no sangue.
Trigo no Brasil: Rápida adaptação e eficiência
No Brasil, o trigo foi trazido pelos portugueses, provavelmente em 1534, com Martim Afonso de Souza, que criaram as primeiras plantações desse cereal na capitania de São Vicente que hoje é a região que engloba o estado de São Paulo.
Nessa época, a adaptação dessa lavoura ao clima tropical brasileiro foi tão rápida e eficiente, que outras regiões do país também começaram a desenvolver suas próprias culturas.
Hoje em dia a região sul é a grande produtora de trigo do país, seguida pela região sudeste e centro-oeste, como visto no mapa abaixo.
Fonte: Conab
Em 2019 foram produzidas quase 4,5 milhões de toneladas do grão na região Sul; 442,40 mil toneladas na região sudeste e 208,60 mil toneladas na região centro-oeste. A região nordeste (exceto a Bahia) e a região norte não apresentam produção significante deste grão.
Hoje, mesmo não apresentando autossuficiência, o Brasil tem boa produção desse produto, exatamente por essa identificação do cereal ao terreno e clima do país.
Essa situação também faz com que o trigo seja um dos principais ingredientes da agricultura que está presente na mesa do brasileiro e, portanto, essencial para a manutenção da saúde de muitas famílias.
Principais classificações do trigo
O trigo é uma cultura que pode ser classificada de acordo com algumas variáveis que são:
- Espécie;
- Época de plantio (trigo de inverno ou de primavera);
- Dureza dos grãos;
- Tipo de farinha a serem produzidas.
Quanto à espécie do grão, temos 3 espécies, com muitas variedades à disposição do agricultor, mas sobre elas falaremos mais à frente.
Quanto à época de plantio, podemos classificar o trigo em cultivares de inverno (que necessitam de mais horas de frio), além dos cultivares de primavera.
No caso da dureza dos grãos, podemos classificar essa cultura em trigo duro (com grãos de amido que não quebram na moagem) e trigo mole (com grãos de amido que quebram durante a moagem).
Há ainda a classificação comercial. Ela foi, desde 1990, se adequando aos padrões oficiais de qualidade exigidos pelo mercado nacional para as diferentes aplicações tecnológicas do trigo e de sua farinha.
Atualmente, a classificação comercial de trigo no Brasil é regulamentada pela IN Mapa n° 38/2010, estabelecida como uma tentativa de aproximar a qualidade tecnológica requerida para os principais usos da farinha de trigo, que são:
- Pães industriais, massas alimentícias secas e biscoitos tipo cracker - classes de trigo Melhorador e Pão;
- Uso doméstico e pães caseiros – classes de trigo Doméstico e Pão; e
- Biscoitos semidoces duros e bolos - classes de trigo Básico e Outros Usos.
Na Classe “Outros Usos” também estão incluídos produtos que não se enquadram nos usos tradicionais, como produção de ração animal e utilização industrial.
Espécies de trigo e suas variedades
Como citamos no tópico das classificações, o trigo é dividido em 3 espécies, cada uma com variações específicas. Dessa forma, as espécies mais comuns deste grão são:
-
Trigo comum (Triticum aestivum L.)
Essa é a espécie mais cultivada no mundo, sendo utilizada para a fabricação de pães. O trigo comum representa 80% da produção mundial, incluindo o Brasil.
Outra espécie bem semelhante ao trigo comum é o T. compactum – ou trigo clube – bastante usado na fabricação de bolos e bolachas não crocante, pois possui menos glúten.
-
Trigo “Durum” (Triticum turgidum L.)
Essa espécie tem alto conteúdo de glúten, conferindo maior firmeza após cozimento do grão.
O trigo “durum” dá origem à semolina (resultado da moagem incompleta de cereais), sendo por isso indicado para massas, triguilho e cuscuz, além de alguns tipos de pães.
-
Trigo Einkorn (Triticum monococcum L.)
Considerado como uma espécie ancestral, o Einkorn pode ter dado origem às espécies de trigo cultivadas atualmente.
Embora ainda seja cultivado em regiões específicas do mundo, essa espécie tem despertado interesse por produzir um glúten menos alergênico, sendo adotado para ser uma boa alternativa para os celíacos.
Informações básicas para produzir trigo no Brasil
As recomendações para o cultivo e para a colheita do trigo são bastante variadas e dependem da região do país em que se pretende fazer o cultivo.
Dessa forma, para iniciar nessa atividade, a escolha da melhor cultivar deve ser baseada em:
- Indicação de produção;
- Alto desempenho no campo e produtividade;
- Resistência à doença;
- Indicação da cultivar de acordo com o sistema de produção;
- Fertilidade do solo;
- Época de semeadura, entre outros fatores.
Melhor época para plantio: também depende da região
Além da escolha da cultivar mais adaptada, outro ponto muito importante é saber a melhor época para iniciar o plantio – que deve ser realizado de acordo com o período indicado para cada município.
Para garantir maior assertividade nessa escolha, o produtor pode seguir as recomendações do Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC), que apresenta uma lista de cultivares indicadas para cada região e a relação de municípios com os respectivos calendários de plantio.
As informações obtidas no ZARC podem ajudar o produtor a reduzir riscos na cultura do trigo como é o caso da geada no espigamento e doenças na fase inicial de enchimento de grãos, que resultam na perda da qualidade dos grãos e baixo desenvolvimento da cultura.
Mas, de modo geral, as recomendações para as maiores regiões produtoras do Brasil são:
- Região Sul - o plantio deve ocorrer entre abril e agosto, dependendo do estado;
- Região Sudeste - a janela do plantio é mais restrita, devendo ocorrer entre março e maio.
Duração do ciclo do trigo
O ciclo de produção deste cereal é variável, mas dura, em média, de 100 a 170 dias. Essa variação ocorre de acordo com a cultivar empregada, além das condições edafoclimáticas (clima e solo) da região.
Além disso, cada fase do desenvolvimento do trigo tem uma faixa ideal de temperatura. A variação pode definir a rapidez do ciclo, por exemplo, bem como a passagem de um estádio para outro.
Existem duas escalas fenológicas para a cultura: a de Feekes e Large (1940) (imagem abaixo) e a de Zadoks et al. (1974):
Em termos gerais, da semeadura à colheita, o ciclo deste cereal pode ser dividido em três fases: vegetativa, reprodutiva e enchimento de grãos.
Em cada uma das fases, estádios específicos determinam acontecimentos importantes na formação do rendimento de grãos, sob o ponto de vista tanto da quantidade quanto das características de qualidade tecnológica (classificação comercial dos grãos).
A colheita desse tipo de lavoura ocorre entre agosto e dezembro, especialmente para as regiões Sul e Sudeste.
Planejamento para lavouras de trigo no Brasil
Assim como ocorre com qualquer cultura, a condução de uma lavoura de trigo exige muito planejamento.
Este planejamento engloba a coleta de dados e informações para plantio, definição dos objetivos da atividade, planejamento financeiro e agrícola e estratégias de comercialização.
Planejamento para o plantio e estabelecimento da lavoura de trigo
Para realizar o plantio deste tipo de lavoura é necessário fazer um bom planejamento, conhecendo o histórico da área e quais são as necessidades para melhor preparo do solo.
Por isso, inicialmente deve-se determinar qual o tipo de sistema de cultivo a ser utilizado na área. O método convencional ou Plantio Direto são as opções mais recorrentes.
Para alguns agricultores do Rio Grande do Sul, por exemplo, o plantio direto associado a um bom planejamento garantiu o dobro de produtividade de trigo.
Esse sistema também pode oferecer outros benefícios como diminuição da erosão do solo, redução de operações no preparo do solo, aumento da matéria orgânica, entre outros.
Porém, é importante lembrar que cada região e cada propriedade dentro dessa região tem suas particularidades, reforçando a importância do planejamento para a escolha do melhor sistema de plantio para a sua fazenda.
Outros fatores importantes para o estabelecimento da lavoura de trigo são:
- Semear no limpo;
- Fazer um bom manejo de cobertura do solo até a semeadura;
- Análise de solo, permitindo uma adubação mais equilibrada;
- Semeadura de qualidade;
- Cuidados com velocidade de semeadura e profundidade de semeadura, que deve variar de 2 cm a 5 cm;
- Escolha da semente de qualidade;
- População de planta adequada - A distância entre linhas normalmente indicada para trigo é de 17 cm, sendo, no máximo, 20 cm.
Para uma eficiente densidade de semeadura é preciso considerar a indicação para cada cultivar e para cada região produtora, conforme indicação técnica das instituições de pesquisa e/ou dos obtentores das cultivares.
Mas de acordo com a COMISSÃO BRASILEIRA DE PESQUISA DE TRIGO E TRITICALE, a densidade de semeadura indicada para cada região é:
- Rio Grande do Sul e Santa Catarina:
A densidade de semeadura indicada é de:
- 250 sementes viáveis/m2 para cultivares semitardias e tardias;
- 300 a 330 sementes viáveis /m2 para cultivares precoces e médias;
- para cultivares tardias, quando usadas em duplo propósito, a densidade indicada é de 330 a 400 sementes viáveis/m2.
- Paraná, Mato Grosso do Sul e São Paulo:
- A densidade indicada é de 200 a 400 sementes viáveis/m2, em função do ciclo, porte das cultivares e, algumas vezes, quanto aos tipos de clima e solo.
- Minas Gerais, Goiás, Bahia, Mato Grosso e Distrito Federal:
- A densidade indicada para trigo irrigado é de 270 a 350 sementes viáveis/m2;
- Para trigo de sequeiro a densidade indicada é de 350 a 450 sementes viáveis/m2.
Preparo do solo para plantio
O preparo do solo para plantio é outro ponto importante. Para esse preparo deve-se também saber qual a quantidade de fertilizantes e corretivos a serem aplicados no solo, sendo esse um fator importante quando se pensa no custo com a cultura.
Isso porque os fertilizantes têm maior participação nos custos de produção do trigo, representando aproximadamente 25% do investimento na lavoura. Por isso e para não errar na quantidade de fertilizantes aplicados é importante realizar a análise de solo.
Para plantio direto, é recomendado a amostragem do solo ocorra de 0-10 cm e ocasionalmente de 0-20 cm de profundidade, já para o plantio convencional a profundidade comum é de 0-20 cm.
A interpretação da análise de solo é também essencial. Ela deve ser realizada de acordo com o nível de cada elemento e, para determinar a necessidade de calagem e adubação para a área amostrada, devem ser utilizados manuais ou indicações técnicas para cada região do país.
Rotação de culturas com o trigo: benefícios bastante interessantes
A rotação de culturas é uma alternativa bastante interessante e pode ter o trigo como protagonista.
O trigo constitui-se na principal alternativa para semeadura no Sul do Brasil, no período de inverno, gerando renda, otimizando o uso dos fatores de produção disponíveis, promovendo o sistema plantio direto na palha e melhorando o aproveitamento de insumos.
Porém, para realizar a rotação de culturas é importante que o produtor tenha um bom planejamento, para determinar quais as culturas serão utilizadas na área e se no inverno será utilizado trigo ou outra cultura.
No Cerrado brasileiro, o trigo também é uma alternativa importante para prevenir as consequências negativas da monocultura. O monocultivo de tomate e de leguminosas, por exemplo, aumenta a incidência de doenças como esclerotínia, rizoctoniose e fusariose.
O trigo tem por característica não ser o hospedeiro desses patógenos, constituindo-se na principal alternativa para romper o ciclo biológico destes fitopatógenos, por meio da rotação com estas culturas no Cerrado.
Conclusão
Embora não seja produzido em todo país, o trigo é um grão consumido por quase todo território nacional, na fabricação de pães, cerveja e biscoitos.
Exatamente por isso a demanda interna (de 12,5 milhões de toneladas) não é suprida pela produção, que gira em torno de 5,5 milhões de toneladas por ano, exigindo a necessidade de importar mais da metade do trigo consumido por aqui.
Quanto à questão agrícola, maior planejamento, a escolha das cultivares adequadas e o manejo ideal da lavoura contribuem para uma boa produção e na colheita de um produto de excelente qualidade, contribuindo com a elevação no volume de produção desse cereal dentro do agronegócio nacional.
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